terça-feira, 6 de maio de 2008

Paraplégico tem de usar escadas para ter formação profissional


Um acidente de moto, há 15 anos, atirou Paulo Moreira, de 39 anos, para uma cadeira de rodas.


Hoje sente na pele a discriminação. Não tem emprego e para aumentar as suas habilitações recorreu ao Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) de Gondomar para tirar um curso de informática. Foi colocado nas acções de formação que o IEFP dá nas instalações da Junta de Freguesia de Rio Tinto, cujo edifício-sede não tem rampa de acesso para deficientes. Junta e Centro de Emprego refutam responsabilidades.


Paulo chega às instalações da junta às 09.00 e, quase sempre, permanece ao cima das escadas, com quatro degraus, até que algum dos colegas chegue e o ajude a descer. "Deviam criar um acesso para poder entrar e sair sem estar dependente dos outros alunos", afirmou o formando ao DN, que já questionou o responsável da junta de freguesia para o problema e o Centro de Emprego. A resposta tem sido "o jogo do empurra quanto às responsabilidades pela situação".


"Quando alugamos uma casa temos de criar condições para que as pessoas possam lá morar. Aqui devia ser a mesma coisa, ainda por cima tratando-se de um edifício público que por lei tem de estar equipado com acessos condignos para todos os cidadãos", acrescenta Paulo, à saída de mais uma aula e enquanto a sua cadeira de rodas é carregada por dois dos colegas de curso. Já por várias vezes a formadora do curso, que se mantém atenta ao portão ao cimo da escadas de forma a aperceber-se da chegada do aluno paraplégico, teve de atrasar a aula.


Marco Martins, presidente da Junta de Freguesia de Rio Tinto, justifica o facto de ter cursos a funcionar na autarquia sem condições de acesso para deficientes: "Só dessa forma se pode evitar que as pessoas se desloquem para fora da freguesia para ter formação". O autarca garante que informou o IEFP da falta de condições e que, mesmo assim, o organismo"enviou uma pessoa com deficiência".


Para o autarca a situação é desagradável. "Não temos nenhum gosto em fazer esta discriminação", refere, explicando não ser possível criar uma rampa junto às escadas com declive máximo de 6 %. Mas a autarquia tem um projecto e pretende realizar obras. "Falta apenas financiamento", acrescenta o autarca.


"Para nós uma pessoa com deficiência é igual a outra qualquer. Tem os mesmos direitos e deveres", afirmou ao DN Adolfo Sousa, do IEFP de Gondomar. Este responsável recorda que Paulo Moreira foi encaminhado para a Junta de Freguesia de Rio Tinto "na sequência do seu plano pessoal de emprego".


O IEFP sabia das dificuldades de acesso do edifício e nessa altura terá informado o formando da situação. "O aluno só tinha duas opções: ou aguardava por nova acção a realizar noutro local ou aceitava as condições. Foi o que aconteceu", afirma o responsável. A acção de formação do Paulo, iniciada em Julho, terminou em 13 de Dezembro do ano passado.

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