
Um acidente de moto, há 15 anos, atirou Paulo Moreira, de 39 anos, para uma cadeira de rodas.
Hoje sente na pele a discriminação. Não tem emprego e para aumentar as suas habilitações recorreu ao Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) de Gondomar para tirar um curso de informática. Foi colocado nas acções de formação que o IEFP dá nas instalações da Junta de Freguesia de Rio Tinto, cujo edifício-sede não tem rampa de acesso para deficientes. Junta e Centro de Emprego refutam responsabilidades.
Paulo chega às instalações da junta às 09.00 e, quase sempre, permanece ao cima das escadas, com quatro degraus, até que algum dos colegas chegue e o ajude a descer. "Deviam criar um acesso para poder entrar e sair sem estar dependente dos outros alunos", afirmou o formando ao DN, que já questionou o responsável da junta de freguesia para o problema e o Centro de Emprego. A resposta tem sido "o jogo do empurra quanto às responsabilidades pela situação".
"Quando alugamos uma casa temos de criar condições para que as pessoas possam lá morar. Aqui devia ser a mesma coisa, ainda por cima tratando-se de um edifício público que por lei tem de estar equipado com acessos condignos para todos os cidadãos", acrescenta Paulo, à saída de mais uma aula e enquanto a sua cadeira de rodas é carregada por dois dos colegas de curso. Já por várias vezes a formadora do curso, que se mantém atenta ao portão ao cimo da escadas de forma a aperceber-se da chegada do aluno paraplégico, teve de atrasar a aula.
Marco Martins, presidente da Junta de Freguesia de Rio Tinto, justifica o facto de ter cursos a funcionar na autarquia sem condições de acesso para deficientes: "Só dessa forma se pode evitar que as pessoas se desloquem para fora da freguesia para ter formação". O autarca garante que informou o IEFP da falta de condições e que, mesmo assim, o organismo"enviou uma pessoa com deficiência".
Para o autarca a situação é desagradável. "Não temos nenhum gosto em fazer esta discriminação", refere, explicando não ser possível criar uma rampa junto às escadas com declive máximo de 6 %. Mas a autarquia tem um projecto e pretende realizar obras. "Falta apenas financiamento", acrescenta o autarca.
"Para nós uma pessoa com deficiência é igual a outra qualquer. Tem os mesmos direitos e deveres", afirmou ao DN Adolfo Sousa, do IEFP de Gondomar. Este responsável recorda que Paulo Moreira foi encaminhado para a Junta de Freguesia de Rio Tinto "na sequência do seu plano pessoal de emprego".
O IEFP sabia das dificuldades de acesso do edifício e nessa altura terá informado o formando da situação. "O aluno só tinha duas opções: ou aguardava por nova acção a realizar noutro local ou aceitava as condições. Foi o que aconteceu", afirma o responsável. A acção de formação do Paulo, iniciada em Julho, terminou em 13 de Dezembro do ano passado.
Sem comentários:
Enviar um comentário